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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Por que gosto do Vasco?

Por que você gosta de um certo time de futebol? Influência do seu pai?, dos amigos dele? de um vizinho seu ? Ninguem sabe, ao certo. As razões são viscerais, sobem do fundo da alma, de uma forma mais rápida do que a nossa capacidade de racionalizar o seu porquê. Desconfio que gosto do Vasco por causa de uma foto que ví, quando menino ainda,na casa de vizinhos portugueses, em Cruzeiro-SP, onde nascí. O quadro comemorava o campeonato carioca de 1956, numa época em que o Flamengo havia sido tricampeão(53-54-55). Entretanto, paixão não se explica. Paixão se consome, como uma raspa generosa de doce de leite. O Vasco, na realidade, arrebata pela sua história e apaixona pela sua trilha. Aqueles que não as conhecem, não sabem da grandeza do seu gesto e da eternidade de seus efeitos. O Vasco foi o primeiro clube carioca que aceitou nos seus quadros os negros e os pobres. Isso numa época, onde o esporte era instrumento de segregação, praticado seletivamente por poucos abastados e fazendo jus a sua nobre origem britânica, quando aqui desembarcou no início do século. O clube recém formado para participar do Campeonato Carioca, fora preterido pelos grandes da época(Fla e Flu, farinhas do mesmo saco aristocrático e Botafogo, eterno coadjuvante) sob a falsa alegação de não ter um estádio para receber os seus jogos.Na realidade, o que incomodava a aristocracia da ocasião eram os negros e pobres que vestiam aquela estranha camisa, com uma faixa diagonal saliente e uma cruz de malta encarnada. Em menos de dois anos, em nome do desafio que lhes fora imposto, a torcida e seus simpatizantes, ergueram , por conta própria, o maior estádio de futebol do país, na época: São Januário.E o Vasco voltou da liga discriminada, para o circuito de destaque da capital do pais. Dos grandes clubes do Rio, o Vasco é o único da zona norte, doce e sofrida região da cidade, onde se encontra gente humilde, com cadeiras nas calçadas e na fachada escrita em cima , que é um lar.O Vasco tem até algumas vantagens sintáticas sobre os seus rivais: É o único time, com um nome dissílabo, o que permite que seja gritado em coro, com o seu nome original: VASS..CO, VASS..CO. Os outros, tiveram que usar subterfúgios de redução para caberem no grito que vem do coração(NENN-SE, MENN-GO, FOO-GO).Até no grito lançado da alma, somos mais originais. O Vasco tem uma torcida apaixonada e pelos artistas que o amam, verifica-se a pluralidade de sua paixão. O Vasco de Paulinho da Viola, que um dia cantou sobre um rio que passou em nossas vidas, e que meu coração se deixou levar. Coração de vascaíno,sobreposto por uma cruz de malta, que lhe protege contra os euricos, urubus e pó-de-arroz do dia a dia. O Vasco de Roberto e Erasmo Carlos, com detalhes tão pequenos de nós dois, que somente o cruzmaltino decifra a noite, envolvido no silêncio do seu quarto. O Vasco de Martinho da Vila, que, maliciosamente, propõe se esconder debaixo dessa sua saia para fugir do mundo até ser exorcisado pela água-benta desse olhar infindo. Um vascaíno só se esconde nas franjas da malícia. O Vasco de Luiz Melodia, que cantou que se alguém que matar-me de amor, que me mate no Estácio, morro da zona norte, que do alto do seu "micro-ondas", testemunha a grandeza preto e branca, mistureba de seu povo. O Vasco de Aldir Blanc, que observou que quando caía a tarde, feito viaduto e um bêbado trajando luto, me lembrava Carlitos. Um Carlitos, tão chapliniano, quanto um drible de Romário. O Vasco de João Ubaldo Ribeiro,Rubem Fonseca e Carlos Drummond de Andrade, que sempre tiraram de letra os momentos de rima pobre, por que passamos pela vida.
O time com a maior vocação para os grandes artilheiros do Brasil, formando os Ademir, Dinamites, Romários e Edmundos, é um grito de alerta, como Gonzaguinha viu. Por uma porta entreaberta, percebe-se que somente dois vascaínos fizeram mais de 1000 gols na história do futebol brasileiro: Pelé, declaradamente vascaíno e Romário, geneticamente vascaíno. A camisa do Vasco, foi a única de um clube de futebol(fora Santos e seleções ), que o Rei usou antes de se aposentar. Em 19/06/57, ainda menino, fez 3 gols no jogo Belenenses(Portugal) e combinado Vasco e Santos. Esse é o Vasco que amamos. O Vasco anárquico de Chacrinha, brilhante de João Ubaldo Ribeiro e elegante de Danuza Leão. Você pode até não ter simpatia por ele. A história nos ensinou a respeitar as diferenças. Os cruzeirenses não gostam dele pois em 1974 perderam o campeonato mais ganho da sua história. Bobagem: No futebol, o fraco vence o forte, mesmo que o Armando (M)marque(s) um impedimento duvidoso de Zé Carlos. Os atleticanos se simpatizam com ele, pois, além das cores comuns, temos os mesmos inimigos. Independentemente de paixão ou ódio, de preferir o azul ao preto e branco, não se esqueça de que uma parte fundamental da liberdade e da democracia , que tem no futebol um dos seus instrumentos mais amplos, nasceu nas imediações de São Januário...

Sucesso ou fracasso do CMM/CMMI/MPS.BR

O Sucesso ou fracasso do CMM
Carlos Barbieri


Publicado no CW em 2004, como referência somente ao CMM. Hoje os conceitos valem para CMMI e MPS.BR

O sucesso da implantação de processos de melhorias de software, via CMM ou através de qualquer outro caminho depende de muitos fatores , que variam do técnico ao cultural. As empresas que já alcançaram algum nível de maturidade (vinte e poucas no Brasil em nível 2 e menos de 4 em nível 3, até final de 2003) provavelmente têm receitas diferentes nos seus mecanismos próprios de implantação. O primeiro fator a se considerar é que um processo dessa natureza não é suave, o seu caminho é difícil e o seu retorno, nem sempre certo. Sem um esforço perfeitamente orquestrado entre equipes e dirigentes as chances de sucesso diminuem. A presença marcante de uma gerência envolvida com os ônus do processo é um dos fatores determinantes e que caracterizam as bem sucedidas em CMM.Caberá a eles, gerentes de níveis variados, o delicado senso de flexibilizar no momento certo e intransigir no tempo oportuno, buscando o equilíbrio capaz de fazer com que o processo siga adiante sem rupturas. Outro fator passa pelos aspectos culturais da equipe. Lembre-se que o processo de CMM não diz como fazer, e muito certamente as empresas envolvidas num processo como esse terão que rever as suas práticas de forma profunda. O “peopleware”, representado pelo conjunto de pessoas (gerentes, analistas, programadores, etc) com o perfil de trabalho modificado pelas novas práticas, responderá de maneira diferente. Variará de manifestações de euforia pela modernização de processos e de ferramentas, até o ceticismo explícito ou camuflado daqueles que já fazem bem sob as condições presentes, sem admitir concessões às mudanças. A escolha cuidadosa de pessoas com maior possibilidade de comprometimento com o processo, para ocupar pontos chaves(equipe SEPG, que coordena os trabalhos internamente, por exemplo) é ponto fundamental. Não é a toa que a primeira empresa a alcançar o nível 5 de CMM foi a Motorola, da Índia. A Índia é hoje reconhecidamente o pais onde melhor se aplica os conceitos CMM fora dos EUA. Na década de 70, por quatro anos, tive oportunidade de trabalhar com indianos, durante meu tempo de pós-graduação e mestrado no INPE em São José dos Campos. Desenvolvi diversos trabalhos, projetos e treinamento em conjunto com muitos deles. É um povo diferenciado. Além de uma consistente formação analítica, dedicação e concentração, são de uma retidão profissional e ética acima da média. Não é a toa que dominam o mercado off-shore de desenvolvimento de sistemas. Nós brasileiros temos a nosso favor a capacidade de improvisação, o tino correto para as decisões difíceis e o “timig” mais preciso, sobre o “quando” das coisas. Somos muito intuitivos, mas não gostamos de muita disciplina, de cronogramas, modelos, templates, etc. É um desafio especial ajustar o nosso perfil aos preceitos do CMM. Daí a necessidade de se equilibrar bem o rigor dos métodos com a nossa capacidade de realizar coisas, com o nosso famoso “brasilian little style”.Aos implementadores (consultores externos e equipe da empresa responsável pelo projeto CMM ) caberá a busca do ponto de equilíbrio entre a aplicação do academicismo solicitado e a permissão da informalidade não desagregadora. A simples aplicação de receitas pré-cozidas experimentadas em outras empresas não garante sucesso algum. Deverão receber o tempero de cada empresa. Há que se considerar os seus objetivos(selo CMM, melhoria de processos ou ambos), o entendimento dos seus aspectos culturais e a sua história de fracassos e sucessos recentes. Ciclos de treinamento e palestras de conscientização sobre as melhorias que se busca deverão ser planejados e aplicados com freqüência e intensidade. Em algum ponto desses diversos caminhos, cada empresa encontrará a sua receita de sucesso ou de fracasso do CMM.