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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fragmentos do BI2-Modelagem e Qualidade

A era do zettabytes, como chamamos o futuro em que seremos informações codificadas e transformados de “human being”  em “human bits” , pode ser imaginada pelo volume de informação produzido nesses últimos anos. Os pesquisadores Martin Hilbert da Universidade da Califórnia e Priscila López, da  Universidade da Catalunha, fizeram um estudo que estima o acervo de informações existente de 1986 até 2007.Caso fosse armazenado de forma otimizada, o volume de informação existente naquele ano, presente nas diversas formas de suporte, quer sejam analógicos ou digitais, chegaria a um volume de 295 trilhões de megabytes ou 295 exabytes. Exabytes é a unidade que representa 1024 petabytes, que, por sua vez,  vem a ser 1024 terabytes. Se esses dados fossem armazenados em CD com capacidade de 730 megabytes,  com 1,2 milímetros de espessura, teríamos 404 bilhões de CD, que empilhados chegariam além da região orbital da lua. Até o ano 2000, os meios analógicos guardavam cerca de 75% de toda a informação da Humanidade. Em 2007,, segundo o estudo, mais de 94% dessas informações estaria  em meios digitais, invertendo fortemente as posições, com relação ao início desse século. Claro que o crescimento da internet banda larga e da telefonia móvel tem contribuído significativamente para essa produção maciça de informações. Esse aumento teve como contrapartida a suportá-lo, o crescimento da capacidade dos processadores. Segundo a mesma pesquisa, o somatório de todos os processadores em computadores pessoais alcançava, no final da pesquisa,  a capacidade de 6,4 trilhões de MIPS (milhões de instruções por segundo) e mostravam a tendência de dobrar a cada 18 meses, alavancado pela capacidade de processamento embutida, cada vez maior, nos  diferentes “devices” hoje consumidos, como os celulares e os consoles de videogames. Os números mostrados na pesquisa, embora gigantescos, ganham um tom de certo mistério quando comparados com os de outra natureza. Por exemplo, citam os autores que a quantidade de cálculos que todos os computadores do mundo podem fazer está no mesmo nível do número de impulsos nervosos executados pelo cérebro humano por segundo e a informação acumulada no período estudado é ainda menor do que a codificada no DNA de um ser humano, que gravita na ordem de 10 zettabytes. Isso nos dá uma sensação esquisita de que a tecnologia insinuante e espetacular que produzimos, tem servido também ao propósito de nos mostrar o quanto somos menores do que imaginamos.
Se você não percebeu  ainda, você sendo observado e transformado em bits:  De agora em diante, cada vez mais o nosso cotidiano  estará sendo codificado em bits. Câmeras de vigilâncias em aeroportos, metrôs, ruas e boates, estão registrando os nossos bits.Tudo com a velha máxima de saborear as vantagens e  lamentar as desvantagens. Na Califórnia, no início de 2011 foi inaugurado um estacionamento que monitora, via câmera, cada carro em cada vaga. Através disso, as placas são transformadas em informações que vão para um sistema de banco de dados, que facilita a localização do seu carro, além de permitir um “analytics” sobre o movimento do estacionamento. Ao lado do quiosque de pagamento, existe um monitor onde você digita a placa e recebe a localização perfeita da vaga onde você estacionou, evitando a memorização de cores, números, letras, etc. Assim, as táticas furtivas de deixar carros em estacionamento de shopping, com fins inconfessáveis, podem estar com seus dias contados.  O berçário onde meu neto fica, em Santo André, tem câmeras, que me permitem vê-lo nos intervalos das minhas consultorias, acessando o site da escolinha. Pontos para a tecnologia dos “baby bits”.Quando você agora sai de casa, poderá ser flagrado pelas câmeras do Google ou Microsoft, que capturam as imagens das ruas, visando à atualização de seus serviços de mapeamento na internet. No Brasil houve um caso de um cidadão que agora processa  a Google por um flagrante constrangedor que foi parar no Google View,  segundo ele, mostrando a sua indisposição estomacal para  milhões de internautas. Se você dirige e passa por um pedágio, provavelmente será transformado em bits, com a estampa de tempo e a identificação de sua placa indo dormir em algum datamart que poderá ser acessado posteriormente. Há uma previsão  que nos próximos dois anos, o fluxo de informações gerado por capturas de câmeras e outros sensores digitais deverá ultrapassar o número de e-mails e de tweets, ou equivalentes, colocados nas redes sociais. Os sensores tocarão em muitos aspectos das nossas vidas, prevê Stephen Brobst, CTO de Analytics da Teradata, empresa especializada em grandes DWs com grandes volumes de dados, em entrevista ao USA Today de 26 de janeiro de 2011. Para isso, a tecnologia desenvolve aplicativos e “gadgets” capazes de assumirem o papel de interpretadores dessas novas fontes. A empresa Affectiva,  de Waltham, Massachussets, por exemplo, desenvolveu uma pulseira biométrica capaz de detectar imperceptíveis mudanças nas atividades das glândulas sudoríparas, a fim de se capturar  reações emocionais. A pulseira tem sido usada em crianças autistas a fim de melhor entender as suas reações, normalmente não manifestadas pelo “display” emocional desse tipo de pacientes. A área de marketing já planeja o uso do mesmo “device” para capturar aprovações ou frustrações de clientes submetidos a novas propostas ou produtos. Sensores que registram e trabalham a expressão facial de clientes poderão, num futuro bem próximo, rastrear os produtos que mais lhe interessam, quando você olhar para uma vitrine, por exemplo. Algumas bancas americanas de advocacia, especializadas em divórcio, já usam os registros de idas e vindas de  veículos de cônjuges, coletados em pedágios, como elementos de processos.
Na mesma proporção em que essas novidades são produzidas, considerações sobre privacidade voltam à tona. As áreas envolvidas com a preservação de privacidade já se preocupam com o dia em que as diversas informações coletadas por mecanismos variados, quando confrontadas por métodos analíticos do BI2, poderão levar a uma negativa de emprego, a aspectos de cancelamento de seguros ou à redução de níveis de créditos. Desvantagens do “human bits”. Tudo isso, sem que você saiba de onde vieram as informações, talvez por não ter reparado nessa sua condição de “ser decodificado”. A organização Electronic Frontier Foundation, forte e atenta observadora dos aspectos de privacidade e de direitos fundamentais, independentemente de tecnologia, entende que apesar de todos os esforços, dificilmente, em caso onde envolvimentos e interesses diretos  acontecerem, o governo deixará de mergulhar nesse novo manancial de informações produzido pela sociedade na era do zettabytes. O reconhecimento facial, via fotos, por exemplo, já existe e está bem desenvolvido. A Google (via Picasa) e Facebook (via Photo Albums) incentivam os seus usuários a etiquetar (identificar pessoas, datas e situações) as fotos armazenadas. Com a tecnologia de que dispõem hoje, são plenamente capazes de desenvolver indexações faciais e procurarem por você em outras fotos, através de similaridades de feições, criando uma espécie de impressão “facial”. Uma vez criada essa assinatura, a sua imagem poderá ser procurada nas diversas fontes de armazenamento, inclusive aquelas geradas pelas imagens de câmeras espalhadas pela nuvem. Assim fecha-se o ciclo. Os seus bits faciais, além de serem registrados nas boates, metrôs, estacionamentos, etc, ainda podem ser comparados por técnicas sofisticadas de indexações de feições e permitir a sua identificação. Ou seja, alguém que você não conhece poderá lhe identificar, bastando para isso tirar uma fotografia sua, quebrando alguns preceitos fundamentais do direito ao anonimato. A própria Google introduz com certo cuidado um novo serviço, chamado Goggles, que faz busca na web através de uma fotografia, via smartfone. Ou seja, no lugar de digitar algumas palavras na caixa de pesquisa, você faz um upload de uma foto e obtém as informações relacionadas à ela. Bastaria uma foto sua tirada por alguém interessado em saber quem você é e pronto. Você já não será mais anônimo. Alguns desses smartfones, dotados de GPS, podem facilmente criar as chamadas “geotags”, ou seja, etiquetar as fotos com a sua coordenada geográfica. Isso significa que uma fotografia dessas, mostrando, por exemplo, o novo carro comprado, tirada em frente a sua casa e postada no Twitter, está dizendo onde você mora. Assim, além de saberem sobre você, também poderão saber sobre a sua residência, família, etc. Simples assim. Se você acha que essas linhas estão com um forte sabor de Minority Report, de Tom Cruise, e que demoraremos para alcançar esse patamar que mistura tecnologia com inquietude, tente lembrar dos produtos que eram moda no Natal de 2000. Se você se lembrar deles, o que é difícil, certamente você vai perceber que a instantaneidade da tecnologia já os deixou na poeira da saudade.