Quando eu trabalhava na Cemig, me
envolvendo com os bancos de dados que davam suporte aos sistemas de faturamento e arrecadação, um dos assuntos
que sempre vinha à tona era a medição dos valores de consumo de energia. O
processo era absolutamente manual, com a figura do leiturista percorrendo rotas
pré-definidas, por onde ele ziguezagueava pelos bairros, realizando a leitura
dos valores de consumo, numa espécie de “ tête a tête” com os medidores. Medidores são aqueles
aparelhos que ficam escondidos atrás de umas portinholas metálicas, com cara de
relógio que não marcam horas e com
escalas que não entendemos claramente. São aqueles reloginhos cujos ponteiros
gostávamos de ver numa espécie de corrida circular, quando pequenos. Esses
marcadores numéricos ou digitais apontam valores que são transferidos para uma
folha de anotação que o leiturista traz, já com a identificação da chave do
consumidor. Por vezes, esses processos eram interrompidos por cães ferozes que
surgiam de repente no alpendre das residências, fazendo com que os leituristas
se tornassem uma espécie de fortes candidatos aos jogos olímpicos, na modalidade
50 metros, ou salto com obstáculos. Esse processo continua até hoje, mas já
ganhou tons de modernidade. Hoje já é possível que o registro de consumo seja feito através de leitores remotos, num
diálogo bluetooth, ou pela transmissão
de rádio-frequência, evitando assim que o leiturista tenha que se postar
defronte aos medidores. Isso não impede a sua visita aos pontos de consumos,
embora permita evitar confrontos desconfortáveis com rotweilers pouco
sociáveis.
Em 2012, a SCE(Southern California
Edison), gigante elétrica da região mais
importante do oeste americano, começará uma nova fase, com a implantação dos
SmartReaders , ou seja os leitores inteligentes, para mais de 5 milhões de seus
consumidores. Os leitores inteligentes são equipamentos digitais instalados no
ponto de consumo, que funcionam como um ponto da rede elétrica e também um “
nó” da rede de dados. Ou seja, os medidores farão parte de uma rede de dados
que conectará cada ponto de consumo à empresa, permitindo a leitura de hora em hora
para consumidores residenciais e de 15 em 15 minutos para consumidores
comerciais. Essa nova topologia permitirá a transformação da rede elétrica
tradicional num conceito de smart grid, onde os elementos de engenharia
elétrica(transformadores, disjuntores,etc) que formam uma rede de transmissão e distribuição serão conectados de
forma muito mais inteligente do que por elementos eletro-mecânicos.
Bom, mas qual a correlação disso
tudo com BI, Governança de dados e Big Data? Simples: Com relação a Big data, as empresas elétricas
se prepararam com o advento do smartmeter, para uma nova ordem de armazenamento
de dados de consumo. Vamos considerar a ocorrência de 24 leituras por dia,
multiplicadas por 365 dias por ano, para os mais de 5 milhões de consumidores.
Considerando que os dados medidos tenham, por exemplo 1000 bytes, teremos aproximadamente 50TB
por ano. Isso habitará um Data Warehouse
que integrará dimensões tempo(data-hora-minuto-segundo),
localização(referências geográficas do ponto de consumo), identificação do
ponto de rede elétrica, com os fatos armazenando as diferentes leituras das
variáveis elétricas, conforme o modelo dimensional, a seguir, que ilustra o conceito. Com
a montagem desses dados na forma dimensional, a empresa agregará valor através
da possibilidade de acesso, via internet, dos consumidores aos seus dados.
Assim, cada consumidor poderá rapidamente obter o seu perfil de consumo, por hora do dia, ou por dia da
semana, ou por mês do ano, moldando o seu comportamento de consumidor e podendo
reduzir ou otimizar seus gastos na conta. A empresa, por outro lado, poderá,
através de promoções enviadas aos consumidores, modificar tarifas em tempo
quase real, definidas em função do horário de consumo, incentivando os
consumidores a , por exemplo, tomar banho, fora do horário de pico, e
consequentemente, pagar menos. Com os dados em grande quantidade, os
indicadores de interrupção nos domínios de duração e frequência também poderão
ser facilmente obtidos, definindo de forma mais clara o nível de SLA que a
“utility” oferecerá aos seus consumidores. Os aspectos de Governança entram na
equação, forçando a empresa a definir
procedimentos de dados, aspectos de segurança na transmissão e no armazenamento,
padronização de metadados, uso dos dados , regulações vigentes sobre o assunto
e os riscos que implicarão esse novo volume de dados. E assim, os pulsos analógicos da rede elétrica se encontrarão com
os bits da rede de dados, transformando a grande grade inteligente(smart grid) em
zeros e uns. Logo, logo os pontos de consumo ganharão um endereço IP e a grande
aldeia global estará mais chique e menos choque!
Figura-Modelo dimensional